gosto
Primeiro fomos expulsos do bar, acabou, a luz acendeu, o garçom roliço já colocava cadeiras em cima das mesas, a garçonete dentuça já estava em posse da vassoura. Pagamos a conta e saímos, andamos um pouco, paramos em outro bar. Na frente, um carro de polícia, um senhor de chambres e pantufas (vizinho, suponho) e outro rapaz discutiam. Entramos mesmo assim. Estávamos muito loucos, dançando alucinados, ao som de músicas que a gente nem entendia. A gente se olhava e ria, gargalhava, como se disséssemos: que bom estar aqui contigo, que bom que tu me aceitas como eu sou, vamos dançar, dançar, dançar, vamos nos acabar dançando, nada mais importa, só hoje. Minha maquiagem já devia estar borrada. E um bando de outras pessoas que a gente não conhecia dançavam também, mas a gente é que importava. Ele mexia a cabeça de um lado para o outro, fechava os olhos, abria, abria também os braços para o céu como se agradecesse a Deus por aquele sentimento. Eu imitava e quando baixava a cabeça e a balançava, o movimento do meu cabelo fazia com que os fios batessem no peito dele e
era isso, eu quase queria agredi-lo! Puxei ele e nossos lábios foram se aproximando e se abrindo e em questão de centésimos de segundo minha língua e a dele estavam praticamente transando e eu mordia seu lábio, puxava, empurrava, tesão, muito tesão. Enquanto isso, tudo o que eu podia pensar era que ele era homem, homem, muito homem. Pêlos, cheiros, músculos. A boca dele não tinha hálito (nem bom nem ruim, simplesmente inexistente) e era essa a definição mais clara que já tive do que é gosto simplesmente de boca – o que o deixava mais homem ainda.
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