Thursday, January 19, 2006

o fim

O telefone tocou, o início de todo o fim, talvez um mal entendido, um segundo telefonema, um indício da verdade, não, não quero isso, brincadeira sem graça, é tudo um grande pesadelo coletivo, não, o telefone toca de novo, terceiro telefonema, terceira pessoa, todos já estão sabendo, é quase uma verdade.
Agora preciso entender, quando entender as coisas nunca mais serão iguais, não tem mais volta, quero te ter vivo antes que o telefone toque de novo, antes que eu me dê conta que isso não é um pesadelo, antes que eu seja obrigado a pensar que não tem mais volta, que agora esse caminho é só meu, que a tua mão que segurava a minha não tem mais calor, nem pode mais apertar meus dedos – e a gente ria, sempre, meus dedos são tão menores que os teus, teus dedos roídos, e eu dizia pra ti parar de roer, não quero que o telefone toque de novo, antes preciso te dizer que tu pode sim, rói essas unhas, rói, rói muito, não tem problemas, rói essas unhas e come todos os doces que tu quiser e fuma esse cigarro, não, não vou te incomodar, pode roer e comer e fumar, mas rápido, antes que o telefone toque de novo, rápido, rápido, aperta a minha mão, aperta que eu ainda posso sentir o calor da tua, rói, rói, rói, antes que o telefone toque e tua mão gele, aperta a minha mão, trim, trim, sim, já to sabendo, é verdade, nada mais faz sentido.